Falso brilhante. Elis Regina.




1. Como nossos país.

Não quero lhe falar meu grande amor, das coisas que aprendi nos discos, quero lhe contar como eu vivi e tudo o que aconteceu comigo, viver é melhor que sonhar, eu sei que o amor e uma coisa boa mas também sei que qualquer canto é menor do que a vida de qualquer pessoa.

Por isso cuidado meu bem há perigo na esquina, eles venceram e o sinal está fechado prá nós que somos jovens, para abraçar seu irmão e beijar sua menina na rua, é que se fez o seu braço, o seu lábio e a sua voz.

Você me pregunta pela minha paixão, digo que estou encantada como uma nova invenção, eu vou ficar nesta cidade, não vou voltar pro sertão, pois vejo vir vindo no vento cheiro de nova estação, eu sei de tudo na ferida viva do meu coração.

Já faz tempo eu vi você na rua, cabelo ao vento, gente jovem reunida, na parede da memoria, essa lembrança é o quadro que dói mais, minha dor é perceber que apesar de termos feito tudo o que fizemos, ainda somos os mesmos e vivemos, ainda somos os mesmos e vivemos como os nossos pais.

Nossos ídolos ainda são os mesmos e as aparências não enganam não, você diz que depois deles não apareceu mais ninguém, você pode até dizer que eu tô por fora ou então que eu tô inventando mas é você que ama o pasado e que não vê, e você que ama o pasado e que não vê, que o novo sempre vem.

Hoje eu sei que quem me deu a idéia de uma nova consciencia e juventude, tá em casa guardado por Deus contando vil metal, minha dor é perceber que apesar de termos feito tudo, tudo, tudo o que fizemos, nós ainda somos os mesmos e vivemos, ainda somos os mesmos e vivemos, ainda somos os mesmos e vivemos como os nossos pais.


2. Velha roupa colorida.

Você não sente, não vê, mas eu não posso deixar de dizer, meu amigo, que uma nova mudança em breve vai acontecer, o que há algum tempo era novo, joven, hoje é antigo, e precisamos todos rejuvenescer. Você não sente, não vê, mas eu não posso deixar de dizer, meu amigo, que uma nova mudança em breve vai acontecer, o que há algum tempo era novo, joven, hoje é antigo, e precisamos todos rejuvenescer.

Nunca mais teu pai falou, she's leaving home, e meteu o pé na estrada, like a Rolling Stone, nunca mais você buscou sua menina para correr no seu carro, loucura, chiclete e som, nunca mais você saiu à rua em grupo reunido, o dedo em v, cabelo ao vento, amor e flor, quede o cartaz? No presente a mente, o corpo é diferente e o passado é uma roupa que não nos serve mais, no presente a mente, o corpo é diferente e o passado é uma roupa que não nos serve mais.

Você não sente, não vê, mas eu não posso deixar de dizer, meu amigo, que uma nova mudança em breve vai acontecer o que há algum tempo era novo, joven, hoje é antigo e precisamos todos rejuvenescer. Você não sente, não vê, mas eu não posso deixar de dizer, meu amigo, que uma nova mudança em breve vai acontecer o que há algum tempo era novo, joven, hoje é antigo e precisamos todos rejuvenescer.

Como Poe, poeta louco americano, eu pergunto ao passarinho, blackbird, o que se faz? Raven never, raven never, raven, blackbird, me responde tudo já ficou pra tras, raven never, raven never, raven, assum-preto me responde o passado nunca mais.

Você não sente, não vê, mas eu não posso deixar de dizer, meu amigo, que uma nova mudança em breve vai acontecer o que há algum tempo era novo, joven, hoje é antigo e precisamos todos rejuvenescer. Você não sente, não vê, mas eu não posso deixar de dizer, meu amigo, que uma nova mudança em breve vai acontecer o que há algum tempo era novo, joven, hoje é antigo e precisamos todos rejuvenescer…


3. Los hermanos.

Yo tengo tantos hermanos que no los puedo contar, en el valle, en la montaña, en la pampa y en el mar, cada cual con sus trabajos, con sus sueños, cada cual, con la esperanza delante, con los recuerdos detrás, yo tengo tantos hermanos que no los puedo contar.

Gente de mano caliente por eso de la amistad, con un lloro para llorarlo, con un rezo para rezar, con un horizonte abierto que siempre está más allá y esa fuerza pa buscarlo con tesón y voluntad, cuando parece más cerca es cuando se aleja más, yo tengo tantos hermanos que no los puedo contar.

Y asi seguimos andando curtidos de soledad, nos perdemos por el mundo, nos volvemos a encontrar, y así nos reconocemos por el lejano mirar, por las coplas que mordemos, semillas de inmensidad, y así seguimos andando curtidos de soledad, y en nosotros nuestros muertos para que nadie quede atrás, yo tengo tantos hermanos que no los puedo contar y una hermana muy hermosa que se llama libertad.


4. Um por todos.

Do ventre chão da terra mãe nasce o herói improvisado, querido filho pranteado da fortuna e do acaso, avante, um por todos e todos por um, ficam das lutas ao longe, duas medalhas pregadas em peitos de bronze.

E as bandeirinhas e as rifas, o foguetório e a fanfarra, meio velório, meio farra, o sentimento dos teus pares, herói dos escolares e das lavadeiras, ó Deus das moças solteiras que rezam ao teu retrato sobre a penteadeira.

Eu te conheço, sei o preço da fama e não esqueço que deitei em tua cama em teu berço, eu sei teu preço, eu te conheço, meu oportuno herói, eu lavo as mãos, Pôncio cônscio pilhado em flagrante, lavo as mãos e prossigo adiante, eu por mim mesma, todos por mim, meu oportuno herói.


5. Fascinação.

Os sonhos mais lindos sonhei de quimeras mil um castelo erguí e no teu olhar tonto de emoção, com sofreguidão mil venturas previ, o teu corpo é luz, sedução, poema divino cheio de esplendor, teu sorriso prende, inebria, entontece, és fascinação, amor.


6. Jardins da infância.

Como um conto de fada tem sempre uma bruxa pra apavorar, o dragão comendo gente e a bela adormecida sem acordar, tudo que o mestre mandar e a cabra cega roda sem enxergar, e você se escondeu, e você esqueceu.

Pique palco sem distancia pesquisando em ovos vejam vocês, um tal de pula fogueira, pistolas morteiros vejam vocês, pegue a malhação de Judas e quebra-cabeças vejam vocês, e você se escondeu, e você não quis ver.

Olho o bobo na berlinda, olha o pau no gato, policia e ladrão, tem carniça e palmatória bem no teu portão, você vive o faz de conta, diz que é de mentira brinca até cair, chicotinho ta queimando mamãe posso ir.

Pique palco sem distancia, pesquisando em ovos bruxa e dragão, um tal de pula fogueira e a cabra cega vai de roldão, pega a malhação de Judas e um passarinho morto no chão, e você conheceu, e você aprendeu.


7. Quero.

Quero ver o sol atrás do muro, quero um refúgio que seja seguro, uma nuvem branca sem pó, nem fumaça, quero um mundo feito sem porta ou vidraça, quero uma estrada que leve à verdade, quero a floresta em lugar da cidade, uma estrela pura de ar respirável, quero um lago limpo de água potável.

Quero voar de mãos dadas com você, ganhar o espaço em bolhas de sabão, escorregar pelas cachoeiras, pintar o mundo de arco-íris, quero rodar nas asas do girasol, fazer cristais com gotas de orvalho, cobrir de flores campos de aço, beijar de leve a face da lua.


8. Gracias a la vida.

Gracias a la vida que me ha dado tanto, me dio dos luceros que cuando los abro perfecto distingo lo negro del blanco y en alto cielo su fondo estrellado, y en las multitudes el hombre que yo amo.

Gracias a la vida que me ha dado tanto, me ha dado el oído que en todo su ancho traba noche y día grillos y canarios, martirios, turbinas, ladridos, chubascos, y la voz tan tierna de mi bien amado.

Gracias a la vida que me ha dado tanto, me ha dado el sonido y el abecedario, con él las palabras que pienso y declaro, madre, amigo, hermano y luz alumbrando la ruta del alma del que estoy amando.

Gracias a la vida que me ha dado tanto, me dio el corazón que agita su marco cuando miro el fruto del cerebro humano, cuando miro el bueno tan lejos del malo, cuando miro el fondo de tus ojos claros.

Gracias a la vida, que me ha dado tanto, me ha dado la marcha de mis pies cansados, con ellos anduve ciudades y charcos, playas y desiertos, montañas y llanos, y la casa tuya, tu calle y tu patio.

Gracias a la vida que me ha dado tanto, me ha dado la risa y me ha dado el llanto, así yo distingo dicha de quebranto, los dos materiales que forman mi canto, y el canto de ustedes que es el mismo canto, y el canto de todos que es mi propio canto, gracias a la vida...


9. O cavaleiro e os moinhos.

Acreditar na existência dourada do sol, mesmo que em plena boca nos bata o açoite contínuo da noite, arrebentar a corrente que envolve o amanhã, despertar as espadas, varrer as esfinges das encruzilhadas, todo esse tempo foi igual a dormir no navio sem fazer movimiento, mas tecendo o fio da água e do vento.

Eu, baderneiro, me tornei cavaleiro, malandramente, pelos caminos, meu companheiro tá armado até os dentes, já não há mais moinhos como os de antigamente.


10. Tatuagem.

Quero ficar no teu corpo feito tatuagem que é pra te dar coragem, pra seguir viagem quando a noite vem, e também pra me perpetuar em tua escrava que você pega, esfrega, nega, mas não lava, quero brincar no teu corpo feito bailarina que logo se alucina, salta e te ilumina quando a noite vem, e nos músculos exaustos do teu braço, repousar frouxa, murcha, farta, morta de cansaço.

Eu quero pesar feito cruz nas tuas costas que te retalha em postas mas no fundo gostas quando a noite vem, eu quero ser a cicatriz risonha e corrosiva, marca a frio, a ferro e fogo em carne viva. Corações de mãe, arpões, sereias e serpentes que te rabisca o corpo todo mas não sentes.


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Año: 1976.
Procedencia de la banda: Porto Alegre, Brasil.
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