Acabou chorade. Os Novos Baianos.




1. Brasil pandeiro.

Chegou a hora dessa gente bronzeada mostrar seu valor, eu fui na Penha, fui pedir ao Padroeiro para me ajudar, salve o Morro do Vintém, pendura a saia eu quero ver, eu quero ver o Tio Sam tocar pandeiro para o mundo sambar.

O Tio Sam está querendo conhecer a nossa batucada, anda dizendo que o molho da baiana melhorou seu prato, vai entrar no cuzcuz, acarajé e abará, na Casa Branca já dançou a batucada de ioiô, iaiá.

Brasil, esquentai vossos pandeiros, iluminai os terreiros que nós queremos sambar, há quem sambe diferente noutras terras, noutra gente num batuque de matar, batucada, batucada, reunir nossos valores, pastorinhas e cantores expressão que não tem par, ó meu Brasil.

Brasil, esquentai vossos pandeiros, iluminai os terreiros que nós queremos sambar, Brasil, esquentai vossos pandeiros, iluminai os terreiros que nós queremos sambar.

Chegou a hora dessa gente bronzeada mostrar seu valor, eu fui na Penha, fui pedir ao Padroeiro para me ajudar, salve o Morro do Vintém, pendura a saia eu quero ver, eu quero ver o Tio Sam tocar pandeiro para o mundo sambar.

O Tio Sam está querendo conhecer a nossa batucada, anda dizendo que o molho da baiana melhorou seu prato, vai entrar no cuzcuz, acarajé e abará, na Casa Branca já dançou a batucada de ioiô, iaiá.

Brasil, esquentai vossos pandeiros, iluminai os terreiros que nós queremos sambar, há quem sambe diferente noutras terras, noutra gente num batuque de matar, batucada, reunir nossos valores, pastorinhas e cantores expressão que não tem par, ó meu Brasil.

Brasil, esquentai vossos pandeiros, iluminai os terreiros que nós queremos sambar, Brasil, esquentai vossos pandeiros, iluminai os terreiros que nós queremos sambar…


2. Preta, pretinha.

Preta, preta, pretinha, preta, preta, pretinha, preta, preta, pretinha, preta, preta, pretinha. Enquanto eu corria assim eu ía, lhe chamar, enquanto corria a barca, lhe chamar, enquanto corria a barca, lhe chamar, enquanto corria a barca. Por minha cabeça não passava só, somente só, assim vou lhe chamar, assim você vai ser, só, só, somente só, assim vou lhe chamar, assim você vai ser, só, somente só, assim vou lhe chamar, assim você vai ser, só, só, somente só, assim vou lhe chamar, assim você vai ser.

Eu ía lhe chamar, enquanto corria a barca, eu ía lhe chamar, enquanto corria a barca, lhe chamar, enquanto corria a barca, eu ía lhe chamar, enquanto corria a barca, eu ía lhe chamar, enquanto corria a barca, lhe chamar, enquanto corria a barca.

Abre a porta e a janela, e vem ver o sol nascer, abre a porta e a janela, e vem ver o sol nascer, abre a porta e a janela, e vem ver o sol nascer, abre a porta e a janela, e vem ver o sol nascer, abre a porta e a janela, e vem ver o sol nascer, abre a porta e a janela, e vem ver o sol nascer.

Eu sou um pássaro que vivo avoando, vivo avoando sem nunca mais parar, ai saudade, não venha me matar, ai saudade, não venha me matar, ai saudade, não venha me matar, ai saudade, não venha me matar, lhe chamar, lhe chamar.


3. Tinindo trincando.

Eu vou assim e venho assim, eu vou assim e venho assim. Porque quem invade não, não chega, não, chega não porque pera aí, sou mesmo assim, sou mesmo assim, sou mesmo assim, assim. Um dia assim, um dia assado, um dia assim, no duro tinindo, tinindo trincando…

Quem invade não, não chega, não, chega não, não, chega não, não, chega não, porque pera aí, sou mesmo assim, sou mesmo assim, sou mesmo assim, assim.

Eu vou assim e venho assim, eu vou assim e venho assim. Porque quem invade não, não chega, não, chega não porque pera aí, sou mesmo assim, sou mesmo assim, sou mesmo assim, assim. Um dia assim, um dia assado, um dia assim, no duro tinindo, tinindo trincando… Eu vou assim e venho assim, eu vou assim e venho assim.


4. Swing de Campo Grande.

Minha carne é de carnaval, o meu coração é igual, minha carne é de carnaval, o meu coração é igual, minha carne é de carnaval, o meu coração é igual.

Aqueles que têm uma seta e quatro letras de amor, por isso onde quer que eu ande em qualquer pedaço, eu faço, um campo grande, um campo grande, um campo grande. Eu não marco toca, eu viro toca, eu viro moita, eu não marco toca, eu viro toca, eu viro moita, eu não marco toca, eu viro toca, eu viro moita, eu não marco toca, eu viro toca, eu viro moita.

Minha carne é de carnaval, o meu coração é igual, minha carne é de carnaval, o meu coração é igual, minha carne é de carnaval, o meu coração é igual.

Aqueles que têm uma seta e quatro letras de amor, por isso onde quer que eu ande em qualquer pedaço, eu faço, um campo grande, um campo grande, um campo grande. Eu não marco toca, eu viro toca, eu viro moita, eu não marco toca, eu viro toca, eu viro moita, eu não marco toca, eu viro toca, eu viro moita, eu viro toca, eu viro moita.

Aqueles que têm uma seta e quatro letras de amor, por isso onde quer que eu ande em qualquer pedaço, eu faço, um campo grande, um campo grande, um campo grande, um campo grande. Eu não marco toca, eu viro toca, eu viro moita, eu não marco toca, eu viro toca, eu viro moita, eu não marco toca, eu viro toca, eu viro moita, eu não marco toca, eu viro toca, eu viro moita, , eu não marco toca, eu viro toca, eu viro moita, minha carne é de carnaval.


5. Acabou chorare.

Acabou chorare, ficou tudo lindo, de manhã cedinho, tudo cá, na fé, no bu li, no bu, bu, bolindo…

Talvez pelo buraquinho, invadiu-me a casa, me acordou na cama, tomou o meu coração e sentou na minha mão, talvez pelo buraquinho, invadiu-me a casa, me acordou na cama, tomou o meu coração e sentou na minha mão, abelha, abelhinha.

Acabou chorare, faz zunzum pra eu ver, faz zunzum pra mim, abelho, abelhinho, escondido faz bonito, faz zunzum e mel, faz zum zum e mel, faz zum zum e mel.

Inda de lambuja tem o carneirinho, presente na boca, acordando toda gente, tão suave mé, que suavemente, inda de lambuja tem o carneirinho, presente na boca, acordando toda gente, tão suave mé, que suavemente, abelha, carneirinho.

Acabou chorare no meio do mundo, respirei eu fundo, foi-se tudo pra escanteio, vi o sapo na lagoa, entre nessa que é boa, fiz zunzum e pronto, fiz zum zum e pronto, fiz zunzum e pronto, fiz zum zum.


6. Mistério do planeta.

Vou mostrando como sou e vou sendo como posso, jogando meu corpo no mundo, andando por todos os cantos e pela lei natural dos encontros, eu deixo e recebo um tanto e passo aos olhos nus, ou vestidos de lunetas, passado, presente, participo sendo o mistério do planeta.

Vou mostrando como sou e vou sendo como posso, jogando meu corpo no mundo, andando por todos os cantos e pela lei natural dos encontros, eu deixo e recebo um tanto e passo aos olhos nus, ou vestidos de lunetas, passado, presente, participo sendo o mistério do planeta.

O tríplice mistério do stop, que eu passo por e sendo ele, no que fica em cada um, no que sigo o meu caminho e no ar que fez e assistiu, abra um parênteses, não esqueça, que independente disso, eu não passo de um malandro, de um moleque do Brasil, que peço e dou esmolas, mas ando e penso sempre com mais de um, por isso ninguém vê minha sacola.

Vou mostrando como sou e vou sendo como posso, jogando meu corpo no mundo, andando por todos os cantos e pela lei natural dos encontros, eu deixo e recebo um tanto e passo aos olhos nus, ou vestidos de lunetas, passado, presente, participo sendo o mistério do planeta.

O tríplice mistério do stop, que eu passo por e sendo ele, no que fica em cada um, no que sigo o meu caminho e no ar que fez e assistiu, abra um parênteses, não esqueça, que independente disso, eu não passo de um malandro, de um moleque do Brasil, que peço e dou esmolas, mas ando e penso sempre com mais de um, por isso ninguém vê minha sacola.


7. A menina dança.

Quando eu cheguei tudo, tudo, tudo estava virado, apenas viro me viro, mas eu mesma viro os olhinhos. Só entro no jogo porque estou mesmo depois, depois de esgotar o tempo regulamentar. De um lado o olho desaforo, que diz meu nariz arrebitado, e não levo para casa, mas se você vem perto eu vou lá, eu vou lá.

No canto do cisco, no canto do olho, a menina dança, e dentro da menina, a menina dança, e se você fecha o olho, a menina ainda dança, dentro da menina, ainda dança. Até o sol raiar, até o sol raiar, até dentro de você nascer, nascer o que há. Quando eu cheguei tudo, tudo, tudo estava virado, apenas viro me viro, mas eu mesma viro os olhinhos.

Quando eu cheguei tudo, tudo, tudo estava virado, apenas viro me viro, mas eu mesma viro os olhinhos. Só entro no jogo porque estou mesmo depois, depois de esgotar o tempo regulamentar. De um lado o olho desaforo, que diz meu nariz arrebitado, e não levo para casa, mas se você vem perto eu vou lá, eu vou lá.

No canto do cisco, no canto do olho, a menina dança, e dentro da menina, a menina dança, e se você fecha o olho, a menina ainda dança, dentro da menina, ainda dança. Até o sol raiar, até o sol raiar, até dentro de você nascer, nascer o que há. Quando eu cheguei tudo, tudo, tudo estava virado, apenas viro me viro, mas eu mesma viro os olhinhos.


8. Besta é tu.

Besta é tu, besta é tu… Não viver nesse mundo, besta é tu, besta é tu, besta é tu, besta é tu, se não há outro mundo. Porque não viver? Não viver esse mundo, porque não viver? Se não há outro mundo, porque não viver? Não viver outro mundo.

Besta é tu, besta é tu… Não viver nesse mundo, besta é tu, besta é tu, besta é tu, besta é tu, se não há outro mundo. Porque não viver? Não viver esse mundo, porque não viver? Se não há outro mundo, porque não viver? Não viver outro mundo.

E prá ter outro mundo e preci-necessário viver, viver contanto em qualquer coisa, olha só, olha o sol, o maraca domingo, o perigo na rua. O brinquedo menino a morena do Rio, pela morena eu passo o ano olhando o Rio, eu não posso com um simples requebro, eu me passo, me quebro, entrego o ouro. Mas isso é só porque ela se derrete toda, só porque eu sou baiano, mas isso é só porque ela se derrete toda, só porque eu sou baiano.

Besta é tu, besta é tu… Não viver nesse mundo, besta é tu, besta é tu, besta é tu, besta é tu, se não há outro mundo. Porque não viver? Não viver esse mundo, porque não viver? Se não há outro mundo, porque não viver? Não viver outro mundo.

E prá ter outro mundo e preci-necessário viver, viver contanto em qualquer coisa, olha só, olha o sol, o maraca domingo, o perigo na rua. O brinquedo menino a morena do Rio, pela morena eu passo o ano olhando o Rio, eu não posso com um simples requebro, eu me passo, me quebro, entrego o ouro. Mas isso é só porque ela se derrete toda, só porque eu sou baiano, mas isso é só porque ela se derrete toda, só porque eu sou baiano.

Besta é tu, besta é tu… Não viver nesse mundo, besta é tu, besta é tu, besta é tu, besta é tu, se não há outro mundo. Porque não viver? Não viver esse mundo, porque não viver? Se não há outro mundo, porque não viver? Não viver outro mundo.


9. Um bilhete pra Didi.

Canción instrumental.


10. Preta, pretinha.

Enquanto eu corria assim eu ía, lhe chamar, enquanto corria a barca, lhe chamar, enquanto corria a barca, lhe chamar, enquanto corria a barca. Por minha cabeça não passava só, somente só, assim vou lhe chamar, assim você vai ser, só, só, somente só, assim vou lhe chamar, assim você vai ser, só, somente só, assim vou lhe chamar, assim você vai ser. Preta, preta, pretinha, preta, preta, pretinha, preta, preta, pretinha, preta, preta, pretinha.

Enquanto eu corria assim eu ía, lhe chamar, enquanto corria a barca, lhe chamar, enquanto corria a barca, lhe chamar, enquanto corria a barca. Por minha cabeça não passava só, somente só, assim vou lhe chamar, assim você vai ser, só, só, somente só, assim vou lhe chamar, assim você vai ser, só, somente só, assim vou lhe chamar, assim você vai ser. Preta, preta, pretinha, preta, preta, pretinha, preta, preta, pretinha, preta, preta, pretinha.

Enquanto eu corria assim eu ía, lhe chamar, enquanto corria a barca, lhe chamar, enquanto corria a barca, lhe chamar, enquanto corria a barca. Por minha cabeça não passava só, somente só, assim vou lhe chamar, assim você vai ser, só, só, somente só, assim vou lhe chamar, assim você vai ser, só, somente só, assim vou lhe chamar, assim você vai ser, só, só, somente só, assim vou lhe chamar, assim você vai ser.

Eu ía lhe chamar, enquanto corria a barca, eu ía lhe chamar, enquanto corria a barca, lhe chamar, enquanto corria a barca, eu ía lhe chamar, enquanto corria a barca, eu ía lhe chamar, enquanto corria a barca, lhe chamar, enquanto corria a barca.

Abre a porta e a janela, e vem ver o sol nascer, abre a porta e a janela, e vem ver o sol nascer, abre a porta e a janela, e vem ver o sol nascer, abre a porta e a janela, e vem ver o sol nascer, abre a porta e a janela, e vem ver o sol nascer, abre a porta e a janela, e vem ver o sol nascer.

Eu sou um pássaro que vivo avoando, vivo avoando sem nunca mais parar, ai saudade, não venha me matar, ai saudade, não venha me matar, ai saudade, não venha me matar, ai saudade, não venha me matar, lhe chamar, lhe chamar…

Enquanto eu corria assim eu ía, lhe chamar, enquanto corria a barca, lhe chamar, enquanto corria a barca, lhe chamar, enquanto corria a barca, lhe chamar…


· · ·
Año: 1972.
Procedencia de la banda: Salvador (Bahía), Brasil.
· · ·

Caetano Veloso. Caetano Veloso.




1. Tropicália.

Sobre a cabeça os aviões, sob os meus pés os caminhões, aponta contra os chapadões meu nariz, eu organizo o movimiento, eu oriento o carnaval, eu inauguro o monumento, no planalto central do país. Viva a bossa, biva a palhoça, viva a bossa, biva a palhoça.

O monumento é de papel crepom e prata, os olhos verdes da mulata, a cabeleira esconde atrás da verde mata, o luar do sertão, o monumento não tem porta, a entrada é uma rua antiga, estreita e torta, e no joelho uma criança, sorridente, feia e morta, estende a mão. Viva a mata, viva a mulata, viva a mata, viva a mulata.

No pátio interno há uma piscina com água azul de Amaralina, coqueiro, brisa e fala nordestina e faróis, na mão direita tem uma roseira, autenticando eterna primavera e no jardim os urubus passeiam a tarde inteira entre os girassóis. Viva Maria, viva a Bahia, viva Maria, viva a Bahia.

No pulso esquerdo o bang-bang em suas veias corre muito pouco sangue, mas seu coração balança um samba de tamborim, emite acordes disonantes, pelos cinco mil alto-falantes, senhoras e senhores, ele põe os olhos grandes sobre mim. Viva Iracema, viva Ipanema, viva Iracema, viva Ipanema.

Domingo é o fino-da-bossa, segunda-feira está na fossa, terça-feira vai à roça, porém, o monumento é bem moderno, não disse nada do modelo, do meu terno, que tudo mais vá pro inferno, meu bem, que tudo mais vá pro inferno, meu bem. Viva a banda, Carmem Miranda, viva a banda, Carmem Miranda, viva a banda, Carmem Miranda.


2. Clarice.

Há muita gente, apagada pelo tempo, nos papéis desta lembrança que tão pouco me ficou, igrejas brancas, luas claras na varandas, jardins de sonho e cirandas, foguetes claros no ar. Que mistério tem Clarice, que mistério tem Clarice, pra guardar-se assim tão firme, no coração.

Clarice era morena como as manhãs são morenas, era pequena no jeito de não ser quase ninguém, andou conosco caminos de frutas e passarinhos mas jamais quis se despir entre os meninos e os peixes, entre os meninos e os peixes, entre os meninos e os peixes do rio, do rio. Que mistério tem Clarice, que mistério tem Clarice, pra guardar-se assim tão firme, no coração.

Tinha receio do frio, medo de assombração, um corpo que não mostraba, feito de adivinhações, os botões sempre fechados, Clarice tinha o recato de convento e procissão, eu pergunto o mistério. Que mistério tem Clarice pra guardar-se assim tão firme, no coração.

Soldado fez continência, o coronel reverência, o padre fez penitência, três novenas e uma trezena, mas Clarice era a inocência, nunca mostrou-se a ninguém, fez-se modelo das lendas, fez-se modelo das lendas, das lendas que nos contaram as avós. Que mistério tem Clarice, que mistério tem Clarice, pra guardar-se assim tão firme, no coração.

Tem que um dia amanhecia e Clarice assistiu minha partida, chorando pediu lembranças e vendo o barco se afastar de Amaralina, fesesperadamente linda, soluçando e lentamente. E lentamente despiu o corpo moreno, e entre todos os presentes até que seu amor sumisse, permaneceu no adeus chorando e nua, para que a tivesse toda, todo o tempo que existisse. Que mistério tem Clarice, que mistério tem Clarice, pra guardar-se assim tão firme, no coração.


3. No dia em que eu vim-me embora.

No dia em que eu vim-me embora, minha mãe chorava em ai, minha irmã chorava em ui, e eu nem olhava pra tras. No dia que eu vim-me embora, não teve nada de mais, mala de couro forrada com pano forte brim cáqui, minha vó já quase morta, minha mãe até a porta, minha irmã até a rua e até o porto meu pai.

O qual não disse palavra durante todo o caminho, e quando eu me vi sozinho, vi que não entendia nada, nem de pro que eu ia indo, nem dos sonhos que eu sonhava, senti apenas que a mala de couro que eu carregava, embora estando forrada, fedia, cheirava mal.

Afora isto ia indo, atravessando, seguindo, nem chorando nem sorrindo, sozinho pra capital, nem chorando nem sorrindo, sozinho pra capital…


4. Alegria, alegria.

Caminhando contra o vento, sem lenço e sem documento, no sol de quase dezembro, eu vou. O sol se reparte em crimes, espaçonaves, guerrilhas, em cardinales bonitas, eu vou. Em caras de presidentes, em grandes beijos de amor, em dentes, pernas, bandeiras, bomba e Brigitte Bardot.

O sol nas bancas de revista, me enche de alegria e preguiça, quem lê tanta notícia, eu vou. Por entre fotos e nomes, os olhos cheios de cores, o peito cheio de amores vãos, eu vou, por que não, por que não.

Ela pensa em casamento e eu nunca mais fui à escola, sem lenço e sem documento, eu vou. Eu tomo uma coca-cola, ela pensa em casamento e uma canção me consola, eu vou. Por entre fotos e nomes, sem livros e sem fuzil, sem fome, sem telefone, no coração do Brasil.

Ela nem sabe até pensei em cantar na televisão, o sol é tão bonito, eu vou. Sem lenço, sem documento, nada no bolso ou nas mãos, eu quero seguir vivendo, amor, eu vou, por que não, por que não...


5. Onde andarás.

Onde andarás nesta tarde vazia, tão clara e sem fim, enquanto o mar bate azul em Ipanema, em que bar, em que cinema te esqueces de mim, enquanto o mar bate azul em Ipanema, em que bar, em que cinema te esqueces.

Eu sei, meu endereço apagaste do teu coração, a cigarra do apartamento, o chão de cimento existem em vão, não serve pra nada a escada, o elevador, já não serve pra nada a janela, a cortina amarela, perdi meu amor.

E é por isso que eu saio pra rua, sem saber pra quê, na esperança talvez de que o acaso, por mero descaso me leve a você, na esperança talvez de que o acaso, por mero descaso, me leve, eu sei.


6. Anunciação.

Maria, Maria, nosso filho está perto, esta noite eu o vi em sonhos, me chamando, antes já o pressentia, esta noite eu o vi de repente, vagamente. Maria, Maria, Maria tenho medo que você não chegue a tempo, que ele apareça em meu quarto noturno com uma faca na mão e um sorriso violento nos lábios, é preciso impedir que ele cresça longe de nós e não nos reconheça.

Maria, Maria, não pense que estou louco, nosso filho já nasceu e se não tomarmos conhecimento, como iremos saber que a nossa carne que nos mata. Maria, Maria, tente mesmo chegando a cabeleira vermelha como incêndio mais belo do que nós, enquanto nós pensamos que ainda jaz na caixa de sapato, não deixe nosso filho substituir o teu leite, pelo leite das feras.

Maria, Maria, Maria não te iludas com pílulas ou outros métodos, tarde demais para tais providências, essa noite, Maria, essa noite ele gritou seu nome, Maria, Maria.


7. Superbacana.

Toda essa gente se engana, ou então finge que não vê que eu nasci pra ser o superbacana, eu nasci pra ser o superbacana, superbacana, superbacana, superbacana.

Super-homem, superflit, supervinc, superist, superbacana, estilhaços sobre Copacabana, o mundo em Copacabana, tudo em Copacabana, Copacabana. O mundo explode longe, muito longe, o sol responde, o tempo esconde, o vento espalha e as migalhas caem todas sobre Copacabana, me engana, esconde o superamendoim, o espinafre, o biotônico, o comando do avião supersônico, do parque eletrônico, do poder atômico, do avanço econômico.

A moeda número um do Tio Patinhas não é minha, um batalhão de cowboys barra a entrada da legião dos super-heróis, e eu superbacana vou sonhando até explodir colorido, no sol, nos cinco sentidos, nada no bolso ou nas mãos, um instante, maestro. Super-homem, superflit, supervinc, superist, superviva, supershell, superquentão.


8. Paisagem útil.

Olhos abertos em vento sobre o espaço do Aterro, sobre o espaço, sobre o mar, o mar vai longe do Flamengo, o céu vai longe e suspenso em mastros firmes e lentos, frio palmeiral de cimento. O céu vai longe do Outeiro, o céu vai longe da Glória, o céu vai longe suspenso em luzes de luas mortas, luzes de uma nova aurora que mantém a grama nova e o dia sempre nascendo.

Quem vai ao cinema, quem vai ao teatro, quem vai ao trabalho, quem vai descansar, quem canta, quem canta, quem pensa na vida, quem olha a avenida, quem espera voltar.

Os automóveis parecem voar, os automóveis parecem voar, mas já se acende e flutua no alto do céu uma lua, oval, vermelha e azul, no alto do céu do Rio, uma lua oval da Esso, comove e ilumina o beijo, dos pobres tristes felizes corações amantes do nosso Brasil.


9. Clara.

Quando a manhã madrugava calma, alta, clara, clara morria de amor, faca de ponta flor e flor, cambraia branca sob o sol, cravina branca, amor, cravina, amor, cravina e sonha. A moça chamava Clara, agua, alma, lava, alva cambraia no sol.

Galo cantando cor e cor, pássaro preto dor e dor, o marinheiro amor, distante amor que a moça sonha só. O marinnheiro sob o sol, onde andará o meu amor, onde andará o amor, no mar, amor, no mar sonha, se ainda lembra o meu nome, longe, longe.

Onde, onde se vá numa onda no mar, numa onda que quer me levar oara o mar, de água clara, clara, clara, clara, ouço meu bem me chamar. Faca de ponta dor e dor, cravo vermelho no lençol, cravo vermelho amor, vermelho amor, cravina e galos, e a moça chamada Clara, Clara, Clara, Clara, alma tranquila de dor.


10. Soy loco por tí, América.

Soy loco por ti, América, yo voy traer una mujer playera que su nombre sea Marti, que su nombre sea Marti. Soy loco por tí de amores, tenga como colores la espuma blanca de Latinoamérica y el cielo como bandera, y el cielo como bandera. Soy loco por ti, América, soy loco por tí de amores, soy loco por ti, América, soy loco por tí de amores.

Sorriso de quase nuvem, os rios, canções, o medo, o corpo cheio de estrelas, o corpo cheio de estrelas, como se chama amante, desse país sem nome, esse tango, esse rancho, esse povo, dizei-me, arde, o fogo de conhecê-la, o fogo de conhecê-la. Soy loco por ti, América, soy loco por tí de amores, soy loco por ti, América, soy loco por tí de amores.

El nombre del hombre muerto ya no se puede decirlo, ¿quién sabe? Antes que o dia arrebente, antes que o dia arrebente, el nombre del hombre muerto antes que a definitiva noite se espalhe em Latinoamérica, el nombre del hombre es pueblo, el nombre del hombre es pueblo. Soy loco por ti, América, soy loco por tí de amores, soy loco por ti, América, soy loco por tí de amores.

Espero o manhã que cante el nombre del hombre muerto, não sejam palavras tristes, soy loco por tí de amores, um poema ainda existe com palmeiras, com trincheiras, canções de guerra, quem sabe canções do mar ai hasta te comover, ai hasta te comover. Soy loco por ti, América, soy loco por tí de amores, soy loco por ti, América, soy loco por tí de amores.

Estou aqui de passagem, sei que adiante um dia vou morrer, de susto, de bala ou vício, de susto, de bala ou vício, num precipício de luzes, entre saudades, soluços, eu vou morrer de bruços, nos braços, nos olhos, nos braços de uma mulher, nos braços de uma mulher.

Mais apaixonado ainda dentro dos braços da camponesa, guerrilheira, manequim, ai de mim, nos braços de quem me queira, nos braços de quem me queira. Soy loco por ti, América, soy loco por tí de amores, soy loco por ti, América, soy loco por tí de amores, soy loco por ti, América, soy loco por tí de amores, soy loco por ti, América, soy loco por tí de amores.


11. Ave Maria.

Ave Maria, ave, gratia plena, ave, dominus tecum, dominus tecum, tecum. Benedicta tu in mulieribus, tu, benedictus frutus ventris tuis Jesu, Jesu. Sancta Maria, sancta Maria, mater Dei, ora pro nobis, ora pro nobis, pecatoribus.

Nunc et in hora, hora, nunc et in hora, hora, hora, mortis, nostra, nostre, amém…


12. Eles.

Em volta da mesa longe do quintal, a vida começa, no ponto final, eles têm certeza do bem e do mal, falam com franqueza do bem e do mal, crêem na existência do bem e do mal, o porão da América, o bem e o mal. Só dizem o que dizem, o bem e o mal, alegres ou tristes, são todos felizes durante o natal.

O bem e o mal, têm medo da maçã, a sombra do arvoredo o dia de amanhã, eis que eles sabem o dia de amanhã, eles sempre falam num dia de amanhã, eles têm cuidado com o dia de amanhã, eles cantam os hinos no dia de amanhã, eles tomam bonde no dia de amanhã, eles amam os filhos no dia de amanhã, tomam táxi no dia de amanhã é que eles têm medo do dia de amanhã, eles aconselham o dia de amanhã, eles desde já querem ter guardado, todo o seu passado no dia de amanhã.

Não preferem São Paulo, nem o Rio de Janeiro, apenas tem medo de morrer sem dinheiro, eles choram sábados pelo ano inteiro e há só um galo em cada galinheiro, e mais vale aquele que acorda cedo, e farinha pouca, meu pirão primeiro, e na mesma boca senti o mesmo beijo, e não há amor como o primeiro amor, eomo primeiro amor que é puro e verdadeiro, e não há segredo, e a vida é assim mesmo, e pior a emenda do que o soneto, está sempre à esquerda a porta do banheiro, e certa gente se conhece no cheiro.

Em volta da mesa longe da maçã, durante o natal, eles guardam dinheiro, o bem e o mal pro dia de amanhã.


· · ·
Año: 1968.
Procedencia de la banda: Santo Amaro (Bahía), Brasil.
· · ·

Falso brilhante. Elis Regina.




1. Como nossos país.

Não quero lhe falar meu grande amor, das coisas que aprendi nos discos, quero lhe contar como eu vivi e tudo o que aconteceu comigo, viver é melhor que sonhar, eu sei que o amor e uma coisa boa mas também sei que qualquer canto é menor do que a vida de qualquer pessoa.

Por isso cuidado meu bem há perigo na esquina, eles venceram e o sinal está fechado prá nós que somos jovens, para abraçar seu irmão e beijar sua menina na rua, é que se fez o seu braço, o seu lábio e a sua voz.

Você me pregunta pela minha paixão, digo que estou encantada como uma nova invenção, eu vou ficar nesta cidade, não vou voltar pro sertão, pois vejo vir vindo no vento cheiro de nova estação, eu sei de tudo na ferida viva do meu coração.

Já faz tempo eu vi você na rua, cabelo ao vento, gente jovem reunida, na parede da memoria, essa lembrança é o quadro que dói mais, minha dor é perceber que apesar de termos feito tudo o que fizemos, ainda somos os mesmos e vivemos, ainda somos os mesmos e vivemos como os nossos pais.

Nossos ídolos ainda são os mesmos e as aparências não enganam não, você diz que depois deles não apareceu mais ninguém, você pode até dizer que eu tô por fora ou então que eu tô inventando mas é você que ama o pasado e que não vê, e você que ama o pasado e que não vê, que o novo sempre vem.

Hoje eu sei que quem me deu a idéia de uma nova consciencia e juventude, tá em casa guardado por Deus contando vil metal, minha dor é perceber que apesar de termos feito tudo, tudo, tudo o que fizemos, nós ainda somos os mesmos e vivemos, ainda somos os mesmos e vivemos, ainda somos os mesmos e vivemos como os nossos pais.


2. Velha roupa colorida.

Você não sente, não vê, mas eu não posso deixar de dizer, meu amigo, que uma nova mudança em breve vai acontecer, o que há algum tempo era novo, joven, hoje é antigo, e precisamos todos rejuvenescer. Você não sente, não vê, mas eu não posso deixar de dizer, meu amigo, que uma nova mudança em breve vai acontecer, o que há algum tempo era novo, joven, hoje é antigo, e precisamos todos rejuvenescer.

Nunca mais teu pai falou, she's leaving home, e meteu o pé na estrada, like a Rolling Stone, nunca mais você buscou sua menina para correr no seu carro, loucura, chiclete e som, nunca mais você saiu à rua em grupo reunido, o dedo em v, cabelo ao vento, amor e flor, quede o cartaz? No presente a mente, o corpo é diferente e o passado é uma roupa que não nos serve mais, no presente a mente, o corpo é diferente e o passado é uma roupa que não nos serve mais.

Você não sente, não vê, mas eu não posso deixar de dizer, meu amigo, que uma nova mudança em breve vai acontecer o que há algum tempo era novo, joven, hoje é antigo e precisamos todos rejuvenescer. Você não sente, não vê, mas eu não posso deixar de dizer, meu amigo, que uma nova mudança em breve vai acontecer o que há algum tempo era novo, joven, hoje é antigo e precisamos todos rejuvenescer.

Como Poe, poeta louco americano, eu pergunto ao passarinho, blackbird, o que se faz? Raven never, raven never, raven, blackbird, me responde tudo já ficou pra tras, raven never, raven never, raven, assum-preto me responde o passado nunca mais.

Você não sente, não vê, mas eu não posso deixar de dizer, meu amigo, que uma nova mudança em breve vai acontecer o que há algum tempo era novo, joven, hoje é antigo e precisamos todos rejuvenescer. Você não sente, não vê, mas eu não posso deixar de dizer, meu amigo, que uma nova mudança em breve vai acontecer o que há algum tempo era novo, joven, hoje é antigo e precisamos todos rejuvenescer…


3. Los hermanos.

Yo tengo tantos hermanos que no los puedo contar, en el valle, en la montaña, en la pampa y en el mar, cada cual con sus trabajos, con sus sueños, cada cual, con la esperanza delante, con los recuerdos detrás, yo tengo tantos hermanos que no los puedo contar.

Gente de mano caliente por eso de la amistad, con un lloro para llorarlo, con un rezo para rezar, con un horizonte abierto que siempre está más allá y esa fuerza pa buscarlo con tesón y voluntad, cuando parece más cerca es cuando se aleja más, yo tengo tantos hermanos que no los puedo contar.

Y asi seguimos andando curtidos de soledad, nos perdemos por el mundo, nos volvemos a encontrar, y así nos reconocemos por el lejano mirar, por las coplas que mordemos, semillas de inmensidad, y así seguimos andando curtidos de soledad, y en nosotros nuestros muertos para que nadie quede atrás, yo tengo tantos hermanos que no los puedo contar y una hermana muy hermosa que se llama libertad.


4. Um por todos.

Do ventre chão da terra mãe nasce o herói improvisado, querido filho pranteado da fortuna e do acaso, avante, um por todos e todos por um, ficam das lutas ao longe, duas medalhas pregadas em peitos de bronze.

E as bandeirinhas e as rifas, o foguetório e a fanfarra, meio velório, meio farra, o sentimento dos teus pares, herói dos escolares e das lavadeiras, ó Deus das moças solteiras que rezam ao teu retrato sobre a penteadeira.

Eu te conheço, sei o preço da fama e não esqueço que deitei em tua cama em teu berço, eu sei teu preço, eu te conheço, meu oportuno herói, eu lavo as mãos, Pôncio cônscio pilhado em flagrante, lavo as mãos e prossigo adiante, eu por mim mesma, todos por mim, meu oportuno herói.


5. Fascinação.

Os sonhos mais lindos sonhei de quimeras mil um castelo erguí e no teu olhar tonto de emoção, com sofreguidão mil venturas previ, o teu corpo é luz, sedução, poema divino cheio de esplendor, teu sorriso prende, inebria, entontece, és fascinação, amor.


6. Jardins da infância.

Como um conto de fada tem sempre uma bruxa pra apavorar, o dragão comendo gente e a bela adormecida sem acordar, tudo que o mestre mandar e a cabra cega roda sem enxergar, e você se escondeu, e você esqueceu.

Pique palco sem distancia pesquisando em ovos vejam vocês, um tal de pula fogueira, pistolas morteiros vejam vocês, pegue a malhação de Judas e quebra-cabeças vejam vocês, e você se escondeu, e você não quis ver.

Olho o bobo na berlinda, olha o pau no gato, policia e ladrão, tem carniça e palmatória bem no teu portão, você vive o faz de conta, diz que é de mentira brinca até cair, chicotinho ta queimando mamãe posso ir.

Pique palco sem distancia, pesquisando em ovos bruxa e dragão, um tal de pula fogueira e a cabra cega vai de roldão, pega a malhação de Judas e um passarinho morto no chão, e você conheceu, e você aprendeu.


7. Quero.

Quero ver o sol atrás do muro, quero um refúgio que seja seguro, uma nuvem branca sem pó, nem fumaça, quero um mundo feito sem porta ou vidraça, quero uma estrada que leve à verdade, quero a floresta em lugar da cidade, uma estrela pura de ar respirável, quero um lago limpo de água potável.

Quero voar de mãos dadas com você, ganhar o espaço em bolhas de sabão, escorregar pelas cachoeiras, pintar o mundo de arco-íris, quero rodar nas asas do girasol, fazer cristais com gotas de orvalho, cobrir de flores campos de aço, beijar de leve a face da lua.


8. Gracias a la vida.

Gracias a la vida que me ha dado tanto, me dio dos luceros que cuando los abro perfecto distingo lo negro del blanco y en alto cielo su fondo estrellado, y en las multitudes el hombre que yo amo.

Gracias a la vida que me ha dado tanto, me ha dado el oído que en todo su ancho traba noche y día grillos y canarios, martirios, turbinas, ladridos, chubascos, y la voz tan tierna de mi bien amado.

Gracias a la vida que me ha dado tanto, me ha dado el sonido y el abecedario, con él las palabras que pienso y declaro, madre, amigo, hermano y luz alumbrando la ruta del alma del que estoy amando.

Gracias a la vida que me ha dado tanto, me dio el corazón que agita su marco cuando miro el fruto del cerebro humano, cuando miro el bueno tan lejos del malo, cuando miro el fondo de tus ojos claros.

Gracias a la vida, que me ha dado tanto, me ha dado la marcha de mis pies cansados, con ellos anduve ciudades y charcos, playas y desiertos, montañas y llanos, y la casa tuya, tu calle y tu patio.

Gracias a la vida que me ha dado tanto, me ha dado la risa y me ha dado el llanto, así yo distingo dicha de quebranto, los dos materiales que forman mi canto, y el canto de ustedes que es el mismo canto, y el canto de todos que es mi propio canto, gracias a la vida...


9. O cavaleiro e os moinhos.

Acreditar na existência dourada do sol, mesmo que em plena boca nos bata o açoite contínuo da noite, arrebentar a corrente que envolve o amanhã, despertar as espadas, varrer as esfinges das encruzilhadas, todo esse tempo foi igual a dormir no navio sem fazer movimiento, mas tecendo o fio da água e do vento.

Eu, baderneiro, me tornei cavaleiro, malandramente, pelos caminos, meu companheiro tá armado até os dentes, já não há mais moinhos como os de antigamente.


10. Tatuagem.

Quero ficar no teu corpo feito tatuagem que é pra te dar coragem, pra seguir viagem quando a noite vem, e também pra me perpetuar em tua escrava que você pega, esfrega, nega, mas não lava, quero brincar no teu corpo feito bailarina que logo se alucina, salta e te ilumina quando a noite vem, e nos músculos exaustos do teu braço, repousar frouxa, murcha, farta, morta de cansaço.

Eu quero pesar feito cruz nas tuas costas que te retalha em postas mas no fundo gostas quando a noite vem, eu quero ser a cicatriz risonha e corrosiva, marca a frio, a ferro e fogo em carne viva. Corações de mãe, arpões, sereias e serpentes que te rabisca o corpo todo mas não sentes.


· · ·
Año: 1976.
Procedencia de la banda: Porto Alegre, Brasil.
· · ·

Os Mutantes. Os Mutantes.




1. Panis et Circenses.

Eu quis cantar uma canção iluminada de sol, soltei os panos sobre os mastros no ar, soltei os tigres e os leões nos quintais, aas as pessoas na sala de jantar, são ocupadas em nascer e morrer.

Mandei fazer de puro aço luminoso, um punhal para matar o meu amor e matei as cinco horas na avenida central, mas as pessoas da sala de jantar, são ocupadas em nascer e morrer.

Mandei plantar folhas de sonhos no jardim do solar, as folhas sabem procurar pelo sol e as raízes procurar, procurar, mas as pessoas da sala de jantar, essas pessoas da sala de jantar, mas as pessoas da sala de jantar, são ocupadas em nascer e morrer. Essas pessoas da sala de jantar…


2. A minha menina.

Ela é minha menina, eu sou o menino dela, ela é o meu amor e eu sou o amor todinho dela. A lua prateada se escondeu e o sol dourado apareceu, amanheceu um lindo dia cheirando a alegría pois eu sonhei e acordei pensando nela, pois ela é minha menina e eu sou o menino dela, ela é o meu amor e eu sou o amor todinho dela.

A roseira já deu rosas e a rosa que eu ganhei foi ela, por ela eu ponho o meu coração na frente da razão e vou dizer pra todo mundo como eu gosto dela, pois ela é minha menina, e eu sou o menino dela, ela é o meu amor, e eu sou o amor todinho dela. A lua prateada se escondeu e o sol dourado apareceu, amanheceu um lindo dia cheirando a alegría pois eu sonhei e acordei pensando nela, pois ela é minha menina e eu sou o menino dela, ela é o meu amor e eu sou o amor todinho dela.

Ela é minha menina, ela é minha menina…


3. O relogio.

Meu relógio parou, desistiu pra sempre de ser, antimagnético, vinte e dois rubís. Eu dei corda e pensei que o relógio iria viver pra dizer a hora de você chegar.

Não andou e eu chorei, dois ponteiros parados a rir, são à prova d'água, vinte e dois rubís. Que vantagem eu levei, em ter um relógio, que é suiço ou inglês, sem andar. A que horas você vai chegar?

E no mar me atirei, com o relógio nas mãos eu pensei, ele é à prova d'água, vinte dois rubís.


4. Adeus Maria Fulo.

Adeus, vou me embora meu bem, chorar não ajuda ninguém, enxugue seu pranto de dor que a seca mal começou, adeus, vou me embora meu bem, chorar não ajuda ninguém, enxugue seu pranto de dor que a seca mal começou. Adeus, vou me embora Maria Fulô do meu coração, eu voltarei qualquer dia e só chover no sertão, e os dias da minha volta eu conto na minha mão.

Adeus Maria Fulô, marmeleiro amarelou, adeus Maria Fulô, olho d'água estorricou. Adeus, vou me embora meu bem, chorar não ajuda ninguém, enxugue seu pranto de dor que a seca mal começou, que a seca mal começou, que a seca mal começou.


5. Baby.

Você precisa saber da Piscina, da Margarina, da Carolina, da Gasolina, você, precisa saber de mim, baby, baby, eu sei que é assim, baby, baby, eu sei que é assim.

Você precisa tomar um sorvete, na lanchonete, andar com a gente, me ver de perto, ouvir aquela canção do Roberto, baby, baby há quanto tempo, baby, baby há quanto tempo.

Você precisa aprender inglês, precisa aprender o que eu sei, e o que eu não sei mais, e o que eu não sei mais, não sei, comigo vai tudo azul, contigo vai tudo em paz, vivemos na melhor cidade da América do Sul, da América do Sul, você precisa, você precisa, você precisa, não sei, leia na minha camisa, baby, baby, I love you, baby, baby, I love you.


6. O senhor F.

O senhor F vive a querer ser senhor X, mas tem medo de nunca voltar a ser o senhor F outra vez. O senhor X e o herói que na TV, nunca perde o seu chapéu e faz o senhor F sonhar.

Sonhar em ter pros outros, ver olhos azuis, ter um carro igual ao de X e conquistar a mulher do patrão. Dê um chute no patrão, dê um chute no patrão, dê um chute no patrão.

Você também quer ser alguém, abandonar, mas tem medo de esquecer o lenço e o documento outra vez. Dê um chute no patrão, dê um chute no patrão, dê um chute no patrão.


7. Bat Macumba.

Bat Macumba ê ê, Bat Macumba obá…


8. Le premier bonheur du jour.

Le premier bonheur du jour c’est un ruban de soleil qui s’enroule sur ta main et caresse mon épaule, c’est la souffle de la mer et la plage qui attend, c’est l’oiseau qui a chantée sur la branche du figuier.

La premier chagrin du jour c’est la porte qui se ferme, la voiture qui s’en va, le silence qui s'instale, mais bien vite tu reviens et ma vie reprend son cours, le dernier bonheur du jour c’est la lampe qui s’éteint.


9. Trem fantasma.

Quatrocentos cruzeiros, velhos compram com medo das mãos do bilheteiro, as entradas do trem fantasma ele e a namorada, ele não pensa em nada, ela fica assustada. Quatrocentos cruzeiros de força arrastam o rapaz e a moça para o lugar em cinemascope brilhante, a montanha gigante de generais verdejantes e aparece distante o trem no espelho brilhante, desde o primeiro beijo arrebenta o espelho.

Quatrocentos cruzeiros, quatrocentos morcegos de força o beijo, o rapaz e a moça, o trem dentro d'água, a piscina parada, ela não pensa em nada, ele pensa e não diz onde tem muita água tudo é feliz, o primeiro beijo, quatrocentos cruzeiros, zé quarenta HP's de emoção o zé do caixão traz os bichos da criação.

Até o portão e, terminou a sessão, quatrocentos cruzeiros, velhos compram com medo, ele e a namorada, ela não pensa em nada, ele pensa em segredo, ele pensa em segredo, ele pensa em segredo.


10. Tempo no tempo.

Há sempre um tempo no tempo em que o corpo do homem apodrece e sua alma cansada, penada, se afunda no chão, e o bruxo do luxo baixado o capucho chorando num nicho capacho do lixo, caprichos não mais voltarão. Já houve um tempo em que o tempo parou de pasar e um tal de homo sapiens não soube disso aproveitar, chorando, sorrindo, falando em calar, pensando em pensar quando o tempo parar de pasar.

Há sempre um tempo no tempo em que o corpo do homem apodrece e sua alma cansada, penada, se afunda no chão, e o bruxo do luxo baixado o capucho chorando num nicho capacho do lixo, caprichos não mais voltarão. Mas se entre lágrimas você se achar e pensar que está a chorar; este era o tempo em que o tempo é.


11. Ave Gengis Khan.

Ave Gengis Khan, Ave Gengis Khan. Ave Gengis Khan, Ave Gengis Khan.


· · ·
Año: 1968.
Procedencia de la banda: São Paulo, Brasil.
· · ·